Competências do Coachee para viver o Coaching

Você conhece as premissas básicas para evitar decepções no processo de coaching?

Verificamos no mercado de Coaching um grande apelo aprimoramento das competências do Coach. Entretanto, pouco ou nada se ouve falar a respeito das competências do Coachee. Será que o Coachee também precisa apresentar algumas competências para realizar um processo de Coaching em todo seu potencial?

Tenho atuado com Coaching desde o ano de 2008 quando fiz a minha primeira formação. Desde lá, tenho atendido aos vários perfis de Coachee, desde aqueles extremamente focados e obstinados pelos resultados, até aqueles descompromissados com sua vida, passando também por aqueles emocionalmente comprometidos, e que não deram conta de suportar um processo de Coaching com sua demanda por resultado.

Quando, no início da minha carreira, aprendi que o Coaching sempre dá certo, não tinha clareza dos critérios que deveria considerar para ter essa afirmação como verdadeira. Hoje, depois de mais de duas mil horas de prática e de inúmeras pesquisas bibliográficas voltadas a prática do coaching, consigo visualizar melhor alguns critérios para consolidar a afirmação de que o Coaching dá certo.

Errando e aprendendo fui tomando conta que em algumas situações, me percebia mais comprometida com os resultados do Coachee do que ele próprio. Você pode imaginar a angústia do Coach ao se preparar para cada sessão buscando inúmeras alternativas de ferramentas e estratégias para mobilizar o Coachee, sempre renovando a esperança, “Hoje ele vai se mobilizar. A coisa vai acontecer”. E, por outro lado a grande frustração ao final da sessão ao comprovar, mais uma vez, que “Não aconteceu”. O Coachee não mergulhou, não se emocionou, não fez tarefas, não se apropriou do seu processo.

A questão é precisamos ter a capacidade de reconhecer tais sinais, muito precocemente no processo, para deixar tudo às claras. Assim, talvez Coach e Coachee possam convencionar que não é o momento para o Coachee viver um processo de Coaching ou, que o Coach não está preparado para esse Coachee, ou ainda, poder indicar um profissional mais alinhado com as necessidades do Coachee.

Um dos grandes problemas que tive após minha formação em Coaching foi ter acreditado que eu poderia conseguir qualquer coisa com essa metodologia, negligenciando até mesmo os limites de autonomia no processo. Um objetivo para ser buscado no processo de Coaching deve depender 100% do Coachee e não de terceiros. Quando isso não acontece, observamos que o processo trava e parece não haver saída. É exatamente essa realidade, chegou-se no limite das possibilidades do Coachee, o restante depende de terceiros. Vou exemplificar isso trazendo uma fala de uma aluna minha de uma turma de formação em Coaching. Quando estava em sua tarefa de atender sua colega em um processo de peer Coaching, após chegarem à terceira sessão, o processo travou e elas não conseguiam mais avançar. Minha aluna me procurou contando a respeito disso e eu lhe perguntei: “Qual é o objetivo da sua Coachee? ”. E ela imediatamente me respondeu, “Ela quer que o Marcos lhe peça em namoro”. Logo evidenciou-se a impossibilidade de continuidade do processo. Estava claro que o objetivo não dependia da Coachee mas de uma terceira pessoa, daí a inevitável frustração.

Estou abordando estas nuances do processo de Coaching para mostrar que muitas vezes negligenciamos o papel do Coachee no processo. Ficamos tão empoderados que achamos que podemos absolutamente tudo. Coaching é feito com o Coachee e não para o Coachee. Então, voltando ao tema, vamos considerar algumas competências básicas que são inerentes ao Coachee e que, se as valorizarmos, teremos muito mais sucesso no Coaching.

Sentir-se profundamente comprometido com seu processo. Talvez esta seja a competência mais importante do Coachee. Esse comprometimento estará evidente na execução das tarefas, na abertura para falar de si nas sessões, na pontualidade e assiduidade, na vibração com que comemora e compartilha os resultados.

Ter a capacidade de expressar seus sentimentos e necessidades. Sendo a relação de Coaching uma parceria, é fundamentalmente importante que o Coachee esteja, totalmente disponível a reflexão e ao compartilhamento das suas conversas internas, permitindo ao Coach provocar um novo olhar sobre o mesmo contexto. O olhar da posição de quem não está envolvido na situação e consegue mobilizar o Coachee para identificar elementos diferenciados até então não percebidos.

Prontidão para assumir responsabilidades. Coach, tenha uma percepção muito apurada de como seu Coachee está se posicionando em sua vida. Cuide e evidencie quando seu discurso ficar rodando a vitimização. Convide-o a assumir a responsabilidades pelas suas decisões, suas preferências, seus conflitos, seus relacionamentos, seus resultados, enfim, sua vida.

Disponibilidade financeira e de tempo para viver o processo intensamente. Sempre falo para meus alunos formandos em Coaching, que o Coaching não é algo trivial na vida das pessoas. É algo especial que talvez acontecerá uma única vez na vida dele e que precisa aproveitar ao máximo, mobilizando todo seu entorno (família, amigos, colegas, clientes) neste único objetivo. Sim, o Coachee precisa compartilhar com todas as pessoas de suas relações que está fazendo um processo de Coaching e que conta com a ajuda de todos para ter sucesso.

Ter equilíbrio emocional suficiente para fazer reflexões profundas, ter insights, e assumir compromissos para implementar mudanças importantes em sua vida. Mesmo que isso seja extremamente desagradável no começo, porém os resultados podem valer a sua felicidade.

Capacidade de entrar em ação. O que faz um processo de Coaching atingir o extraordinário, não é somente uma excelente sessão de Coaching, mas a forma como essa sessão mobilizará seu Coachee para a ação posterior e imediata. Se ele não entrar em ação, o resultado não acontecerá e vocês não estarão fazendo Coaching.

Então caro Coach, gerencie com sabedoria seus processos de coaching. Desenvolva seu olhar crítico para as competências necessária para ser um Coachee e liberte-se do sentimento de culpa pelo não atingimento de resultados.

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