UM CASE DE MENTORIA EM COACHING – DA INSEGURANÇA AO EMPODERAMENTO

Roberta¹ era uma profissional da área de recursos humanos, mestre na área organizacional e fez recentemente sua formação em Coaching. Roberta procurou a mentoria em coaching com o objetivo de tratar de sua insegurança nos atendimentos de Coaching. Tal insegurança, era gerada pelo fato de Roberta estar sendo procurada para atendimentos de coaching por pessoas mais velhas do que ela, mais experientes e com relativo sucesso profissional. As expectativas por realizar estes atendimentos de Coaching, começavam por lhe trazer um profundo incômodo. Tinha sérias dúvidas com relação a sua capacidade de atuar com excelência e, efetivamente prestar ajuda aos coachees com esse perfil, sendo ela recém formada em Coaching. O método utilizado na sessão de mentoria foi o Mergulho Profundo².

Observe suas palavras ao falar do contrato para o resultado esperado da sessão de mentoria em Coaching. Pergunto: “O que você gostaria de trabalhar hoje na sessão?” Ela responde: “Insegurança em atuar como Coach … eu tenho pouquíssima experiência. Fiz a formação, já li muitas coisas, pesquisei, já estudei, mas me assusta muito ter que ter um coachee. Ainda mais com a possibilidade de ter um coachee mais velho do que eu, ou com mais experiência profissional do que a minha. Eu tenho medo de não ser tão efetiva, ou medo de não dar conta. Se eu pego alguém mais jovem ou com um know how de trabalho, ou uma experiência menor do que a minha, me sinto mais segura. Alguém que não saiba de repente o que quer com relação à carreira. Mas, me assusta por exemplo, ter um coachee hoje, sei lá mais velho 45 ou 50 anos, com muito mais sabedoria e experiência. Isso me assusta muito.”

O motivador para Roberta trabalhar essa questão na sessão de mentoria, era por se tratar de algo muito importante, pois buscava a excelência no seu desempenho, além disso não tinha clareza de como garantir essa excelência, sem a experiência e sem roteiros rígidos para atender um processo de Coaching do início ao fim. Lembrando também que tinha a idade de 35 anos na época. Roberta definiu como a evidência de termos chegado a um resultado ao final da sessão, descobrir como trazer para si a sensação de segurança para atender pessoas mais velhas que ela.

Começamos a explorar a questão, passando por entender o que ela achava que precisava para ter mais segurança. Na sua percepção isso passava pela necessidade de ter mais experiência e ter uma estrutura para conduzir um processo semelhante ao que aplicava em sala de aula com seus alunos. Observe a efetividade de uma pergunta poderosa na prática. “O que isso, sobre ter direção e estrutura conta sobre você Roberta?” Nesse momento a cliente assume que isso revela o quanto a estrutura lhe dá segurança para ter resultados de excelência no seu trabalho. “Isso é muito importante na minha vida, esse é o meu funcionamento. Eu funciono assim. Eu preciso de estrutura eu preciso de conhecimento. É assim que eu funciono … minha vida toda sempre foi muito estruturada… Isso me dá segurança de atuar com excelência.”  Ao contar um pouco mais a respeito desta necessidade, questionei a respeito de que, parecia que ultimamente, ela já estava atuado com menos estrutura e mais fluidez. “Na hora do improviso eu sei que eu dou jeito, eu sei que isso acontece, eu já fiz isso.”

Assim me ocorreu que haviam coisas distintas nessa questão e lhe perguntei: “Então estamos lidando com o coaching demandar de um roteiro ou com a sua crença de que, para ter um resultado de excelência, você precisa de um roteiro?” A coach Roberta respondeu: “É uma crença, é assustador, mas é uma crença.” E assim ela discorre sobre seu pavor de se encontrar em situações que fujam da programação, ou que exijam presença de espírito para agir assertivamente. Provoquei mais a reflexão com mais perguntas: “O que tem em comum em todas essas situações que te geram insegurança?” Coach: “São pessoas e eu não sei o que vou encontrar. ”

Como sua mentora, começo a articular as informações que ela me deu até o momento e, de repente, Roberta me interrompe e lança: “Eu tive uma luz! Eu já sei! Já tô entendendo esse negócio! Essa crença vem da infância! Se eu for olhar para os meus pais, toda a vida deles é programada. Tudo é programado. Tudo é certinho. Tudo é pensado. Então, prá mim, essa é uma referência muito forte. Se não for exatamente no dia 31 tal coisa, se fizer no dia 29, eu estou deixando a desejar, não estou fazendo o certo, não estou fazendo bem feito. É assim, eu nunca tinha me tocado disso. Mesmo. Realmente tudo é programado… e realmente talvez seja uma crença de que se eu não tiver tudo isso na minha mão eu não vou fazer um bom trabalho.”

A partir desse insight (exploração do QUEM) a coachee foi percebendo que se tratava de uma crença proveniente da convivência familiar, permitiu-se então, reconhecer de onde vem essa necessidade de programação e estruturas rígidas para com a vida pessoal e profissional. Nesse momento os questionamentos foram para que ela pudesse compreender se, o seu local no seio familiar estaria assegurado, mesmo que transcendesse o padrão familiar. Minha intervenção foi: “Então você está me dizendo que, mesmo atuando de maneira diferente você continua sendo amada e pertencendo à esta família?” Coach Roberta: “Meu Deus eu acho que eles sentiriam um orgulho total… Nossa quanta coisa faz sentido… Eu seria tão amada quanto sou, quebrando alguns padrões.” Então, como resultado da sessão, ela entende que sim, continuará sendo amada e pertencendo a família e assim poderá se permitir fluidez nos seus atendimentos de Coaching. Atuará com excelência, independente da idade ou experiência dos futuros coachees, utilizando ou não estrutura, mas, podendo contar com toda a sua experiência de vida, para colocar-se a serviço do coachee.

Para consolidar e tomada de consciência, complementei: “Você consegue perceber o quanto você já tem quebrado esses padrões?” Coach Roberta: “Sim, sim, hoje me percebo muito mais leve, percebo que eu posso brincar, ser mais leve, menos burocratizada.” Continuei a clarificar: “Está saindo do padrão familiar…” Roberta: “Sim o padrão familiar é muito formal. Muito. É verdade. Ô meu Deus do céu… é verdade faz muito sentido, ô sua danada.” Assim, Roberta percebeu que na prática já havia transcendido o padrão familiar, mas mantinha ainda a crença e o sentimento de insegurança.

Roberta se dá conta que estuda, se prepara ao máximo, mas isso não significa que poderá aplicar na íntegra aquilo que preparou. As palavras de empoderamento final da Mentora foram: “Quando você está em sala de treinamento e também no Coaching, você não se limita a utilizar somente os recursos que você programou para aquele momento. Certo? Talvez você resgate coisas inclusive daquilo que viveu na infância, das gargalhadas que dá em casa com seu filho, dos momentos de lazer, das conversas informais, do seu sonho de infância, da sua tese de mestrado. Tudo aquilo está em você onde você estiver. Não é uma formação em Coaching que te dá o preparo para atender uma pessoa de 40 ou 50 anos. É toda a sua história que se consagra, que se evidencia naquele momento que você está ali, porém com a permissão de fluir. Faz sentido isso?” Resposta da Roberta: “É verdade. Eu nunca tinha pensado nisso. Ô minha nossa senhora! Estou deixando as minhas pedras aqui hoje … então, que se ferre! Meu cliente pode ter 80 anos, mas eu tenho algo a contribuir. É isso. Eu sei que eu posso e tá dentro de mim. Não é por acaso que eu estou aqui… agora se conecta com o sentido de estar e de poder.” Concluindo e resgatando a ocorrência da evidência, pergunto sobre como se sente: “Eu me sinto empoderada. O mundo é pequeno e eu dou conta disso.” Na sequência, Roberta se propôs a tarefa de ir em busca de novos coachees, sem mais critério para idade.

O relato acima evidencia o poder de uma sessão de mentoria. Em uma sessão de menos de 40 minutos, a coach consegue tomar consciência e transcender uma crença profundamente enraizada e que produzia nela um sentimento de incapacidade e insegurança para ser uma coach.

 

(¹) O nome da coach foi modificado para preservar sua identidade.

(²) O Método Mergulho Profundo foi criado pela autora e tem como ferramenta fundamental, as Perguntas Poderosas de Coaching.

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Claudia Negreiros
Claudia Negreiros
Claudia Negreiros é Coach e Mentora de Coaches e ajuda os coaches a conquistar segurança e autoconfiança para SER e VIVER de Coaching.