Como a busca incansável por alta performance está adoecendo profissionais e o que podemos fazer a respeito.
Você se deita exausto, mas a mente continua em atividade?
Sente que está sempre em dívida com o trabalho, mesmo tendo feito “tudo certo”?
Já investiu em cursos, formações, atualizações e, ainda assim, parece estar correndo atrás de algo que nunca alcança?
Se você se reconhece em alguma dessas situações, saiba: você não está sozinho. E, mais importante, isso tem explicação.
Vivemos a era da produtividade extrema e ela está cobrando um preço altíssimo.
Segundo dados da OMS (pré-pandemia), o Brasil já era o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Em 2024, o cenário se agravou: o número de afastamentos do trabalho por transtornos mentais aumentou 68% em relação a 2023, segundo o Ministério da Previdência Social. Só no ano passado, foram mais de 472 mil afastamentos concedidos por motivos de saúde mental, em destaque a ocorrência de ansiedade e depressão.
Mas por que estamos adoecendo tanto?
A resposta é complexa, mas entre os fatores estão:
- O impacto emocional da pandemia,
- A instabilidade econômica e social,
- A precariedade no acesso ao tratamento da saúde mental,
- E, sobretudo, a nova dinâmica do trabalho, em que cada profissional é também o “gestor da própria carreira”, o que soa libertador, mas pode se tornar uma armadilha.
O ponto cego: o mito da alta performance constante
Hoje, a cobrança não vem mais de um chefe externo como foi na era industrial. Vem de dentro do indivíduo.
Na chamada “Sociedade do Cansaço”, como define o filósofo Byung-Chul Han, somos avaliados pelo desempenho o tempo inteiro: no trabalho, nos estudos, nas redes sociais, nos relacionamentos.
Produzir virou sinônimo de existir.
Ficar parado virou sinônimo de fracasso.
Sentir tornou-se um incômodo a ser rapidamente medicado ou ignorado.
Vivemos uma violência neural, causada pela auto exigência contínua e excessiva, que compromete nossa saúde física e emocional e está por trás da epidemia silenciosa de ansiedade e depressão.
Dilema: Como sair desse ciclo sem se desconectar do mundo?
Ampliação da consciência
Só conseguimos mudar ou gerenciar aquilo que reconhecemos.
A seguir, compartilho algumas estratégias reais de prevenção e autocuidado que podem ajudar tanto indivíduos quanto empresas:
Para o indivíduo:
- Pratique a autocompaixão. Trate-se com a mesma gentileza que você reserva a um amigo.
- Valorize o descanso. O ócio é necessário para a saúde mental, não é um luxo.
- Estabeleça limites. Nem tudo serve pra você, nem tudo é prioridade. Estabeleça os seus inegociáveis.
- Diminua a autocrítica. Errar, falhar, pausar, tudo isso é humano.
- Foque no presente. O passado não muda. O futuro é incerto. O presente é o único lugar onde podemos agir.
- Cuide da sua atenção. Ela é seu recurso mais valioso.
- Busque apoio. Ninguém precisa enfrentar tudo sozinho.
Para as empresas:
- Aplique a NR-1 com consciência. As atualizações da norma podem (e devem) ser um ponto de virada.
- Assuma corresponsabilidade. A saúde mental dos colaboradores não é uma pauta “individual”.
- Implemente práticas reais de bem-estar. Não adianta falar sobre equilíbrio se a cultura interna prega o contrário.
- Invista em escuta respeitosa. Crie espaços seguros para que os colaboradores possam se expressar sem medo de julgamentos ou perseguições.
- Capacite a liderança para que ela possa reconhecer quando a equipe está apresentando sinais de transtornos mentais.
- Estimule a prática do autocuidado.
Verdade seja dita:
- Não precisamos estar bem o tempo todo.
- Não precisamos ter todas as respostas.
- É saudável sentir tristeza, frustração, cansaço e também alegria, gratidão, serenidade.
- É corajoso pedir ajuda.
A Sociedade do Cansaço nos desafia, sim. Mas também nos oferece a oportunidade de recolocar o bem-estar humano no centro das decisões individuais e organizacionais.
Se você quer desenvolver estratégias práticas de recuperação e prevenção da saúde mental dos colaboradores ou o seu próprio autocuidado, estamos aqui para contribuir com soluções.
Vamos juntos construir uma nova narrativa, onde saúde mental e alta performance caminham lado a lado.
Referências
HAN-Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.
NR 01 – Disposições Gerais e Gerenciamento Riscos Ocupacionais
OMS: mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo